A dispersão da Covid-19 e outras doenças tropicais, como malária e dengue está diretamente relacionada à trajetória de desenvolvimento agrícola dos municípios, que causam o desmatamento na Amazônia.
É o que diz um estudo liderado pela Fiocruz.
No mês de maio, o Amazonas registrou a maior alta de desmatamento dos últimos 10 anos. Uma área equivalente a mais de 118 mil campos de futebol foi devastada, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe.
Os municípios de Lábrea e Apuí, no sul do estado, sozinhos concentraram 60% dos alertas de desmatamento.
De acordo com o Engenheiro Florestal e ex-diretor de fiscalização do Ibama, Adilson Cordeiro, a região é de grande interesse para atividades agrícolas:
“Essa pressão do desmatamento ocorre toda vez que o agronegócio está em alta. E o agronegócio brasileiro nunca esteve tão em alta como agora. O Brasil lidera a produção de alimentos no mundo, produzimos alimento para 2 bilhões e 500 milhões de pessoas e temos uma população de 200 milhões”, disse Adilson.
Essas cidades da região sul do Amazonas são consideradas áreas de expansão urbana e registraram mais casos de dengue e Chikungunya, de acordo com o estudo da Fiocruz.
De acordo com a pesquisadora e coordenadora do relatório da Fiocruz, Cláudia Codeço, existem diferente formas de ocupação da Amazônia. Desde as mais simples, como a pequena agricultura, até mais complexas, que envolvem a grande demanda do Agronegócio:
“O desmatamento como um processo de transformação econômica forte que leva à uma movimentação humana, que leva à uma reestruturação da população, muitas vezes associadas à habitações precárias, condições sanitárias ruins e esse processo então cria as condições favoráveis para as transmissões de doenças como a covid, a tuberculose e várias doenças que estão associadas à viver em ambientes aglomerados e com problemas sanitários”, afimou a pesquisadora.
A pesquisadora destaca que extrativismo ilegal movimenta uma grande quantidade pessoas, que circulam entre áreas indígenas, ribeirinhas e urbanas, criando um corredor de transmissão de doenças no interior do Amazonas:
“Do ponto de vista epidemiológico, isso se torna um problema de calamidade pública, porque uma vez que a covid-19 chega nessas comunidades, ela se espalha rapidamente e nós não temos condições para fazer a resposta assistencial em uma velocidade adequada”
Dados divulgados pelo Inpe mostraram que o desmatamento na Amazônia bateu recorde pelo quarto mês seguido.
No mês de junho, a região perdeu mais de mil quilômetros quadrados de floresta nativa.
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Reportagem: João Felipe Serrão
Foto: Divulgação/Internet