O relato é da estudante Aline Vianna que perdeu o bebê em abril deste ano após um parto traumático no Hospital Padre Colombo, em Parintins, no interior do Amazonas.
Aline diz que Gael Viana Farias nasceu com 55 centímetros e quase 4 quilos, uma criança saudável que, segundo ela, teve a vida interrompida pouco depois de nascer por negligência. A estudante conta os momentos de agonia ao dar à luz o filho. (ouça)
A vigilante Dannielly Alves afirma que presenciou uma situação semelhante no mesmo hospital. Ela ajudou a fazer o parto do próprio neto em uma maca, sem a presença de enfermeiros.
Segundo Dannielly Alves, os profissionais só chegaram depois que a criança nasceu e precisou ser reanimada por não conseguir respirar. (ouça)
O bebê, chamado João Miguel, morreu depois de dois dias na UTI Neonatal.
Profissionais de saúde e ativistas do parto humanizado classificam como violência obstétrica as seguintes situações: negar ou deixar de oferecer algum alívio para a dor; não informar a mulher sobre o procedimento médico que será realizado, agressão verbal ou física.
A estudante de enfermagem Adriana Barros diz que passou pela maioria dessas situações durante o parto do segundo filho e que, por pouco, não teve o útero retirado – sem autorização – após resto de placenta ser deixado dentro do seu ventre.
A ginecologista Edilly Tourinho afirma que os procedimentos relatados pelas vítimas caracterizam situações graves. (ouça)
A partir dos relatos de pacientes, o Ministério Público do Amazonas informou que, a partir da próxima semana, vai instaurar inquérito. O promotor de Justiça Marcelo Bitarães Barros afirma que haverá apuração aprofundada sobre os casos denunciados com exclusividade pela rádio BandNews em Manaus.
O estudo hospitalar Nascer no Brasil, revela que 45% das gestantes brasileiras atendidas pelo Sistema Público de Saúde são vítimas de maus-tratos. Apesar disso, a violência obstétrica não é considerada crime, não tem reconhecimento do Ministério da Saúde e ainda é vista como um aspecto cultural do parto.
No entanto, a advogada Tallita Lindoso destaca que nos casos em que ocorre a morte do bebê, o médico responsável pela equipe que realizou o parto pode responder por homicídio. (ouça)
Além das denúncias relatadas anteriormente, a Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM) constatou que o Hospital Padre Colombo tem uma elevada sobrecarga de atendimentos obstétricos, chegando a ter, por exemplo, 10 gestantes em trabalho de parto esperando nos corredores por causa da superlotação e da ausência de vagas.
A Defensoria Pública do Amazonas (DPE) realizou uma inspeção no local no dia 16 de setembro deste ano e acionou a Justiça para que governo do estado e prefeitura de Parintins tomem providências sobre o problema. Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado (SES-AM), disse que atua, juntamente com a Prefeitura de Parintins, na elaboração de mecanismos de melhoria da assistência a gestantes no município.
Um dos planos em andamento é o projeto PlanificaSUS, do Ministério da Saúde, que busca soluções para a rede da linha materna infantil nos municípios da região do Baixo Amazonas.
A prefeitura de Parintins foi procurada, mas ainda não deu resposta quanto as denúncias.
Reportagem: Cindy Lopes
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