Por Cindy Lopes
O rápido crescimento urbano de Manaus é apontado por especialistas como um dos principais fatores que agravam os desafios de saneamento básico na região.
Esse processo é impulsionado pela migração interna e pela ocupação irregular de terrenos, muitas vezes sem o planejamento necessário para a infraestrutura básica.
Segundo o Censo do IBGE de 2022, Manaus foi a capital brasileira que mais cresceu em população desde 2010, ganhando, em média, 17 mil novos moradores por ano.
Esse aumento populacional não planejado levou a uma ocupação desordenada de terrenos, o que agravou a carência de infraestrutura básica em muitas áreas.
Um levantamento do Mapbiomas mostrou que Manaus teve o maior aumento de áreas de favelas no Brasil entre 1985 e 2022, demonstrando como o crescimento demográfico está diretamente relacionado à expansão dessas regiões vulneráveis e, consequentemente, impactando o acesso ao saneamento básico, como comenta Marcos Castro de Lima, doutor em geografia humana e professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). (Ouça)
Segundo o gerente de Responsabilidade Social da Águas de Manaus, Semy Ferraz, os crescimento urbano desordenado é um dos maiores desafios em levar saneamento básico à população. (Ouça)
Na capital do Amazonas, a implementação das redes suspensas para água e esgoto é vista como uma solução para melhorar o cenário do saneamento básico em comunidades de palafitas, como o Beco Nonato, localizado no bairro Cachoeirinha.
Nessa área, onde vive a empregada doméstica Gisele Dantas, as redes suspensas foram instaladas, tornando essa a primeira região de palafitas no Brasil a receber esse tipo de infraestrutura.
Antes disso, a água vinha de canos clandestinos enterrados na lama e os moradores conviviam com a proliferação de doenças. (Ouça)
O especialista em antropologia urbana, Pedro Paulo Soares, explica que a falta de saneamento acaba impactando outros direitos básicos da população, principalmente dos mais vulneráveis, e que esses serviços de infraestrutura devem ser pensados de forma integrada. (Ouça)
Segundo o ambientalista Carlos Durigan, o desmatamento de áreas de floresta para a construção de habitações e a falta de planejamento em relação à ocupação do território contribuem para a poluição do solo, rios e igarapés da região. Para Durigan, a questão do saneamento em Manaus é um grande desafio na gestão pública e na estruturação do espaço urbano. (Ouça)
Atualmente, cerca de 31% da população manauara tem acesso à coleta e tratamento de esgoto, e o objetivo da Águas de Manaus é chegar a 80% em 2030.
A meta consta no programa Trata Bem – uma iniciativa da concessionária em parceria com a Prefeitura para universalizar o acesso ao serviço de esgoto na capital e torná-la uma referência nacional em saneamento básico.
O programa é resultado de uma série de estudos realizados nos últimos anos, que consideraram as particularidades geográficas e dos corpos hídricos da cidade e contempla investimentos de aproximadamente R$ 2 bilhões até 2033.