Um estudo publicado na revista científica Nature, mostra que mais de 90% da fauna e flora da região amazônica foi impactada por incêndios.
A pesquisa foi conduzida por pesquisadores da Faculdade do Arizona, com participação de pesquisadores brasileiros da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
O estudo buscou identificar quanto da distribuição das espécies da Amazônia foi atingida pelos incêndios florestais entre os anos de 2001 e 2019. O pesquisador da Unicamp e um dos coordenadores do estudo, Mathias Pires, destaca que novas áreas da região estão sendo tomadas pelo fogo:
“Esses incêndios são mais comuns em áreas que sofrem com maior especulação fundiária, onde existe maior expansão da fronteira agrícola. O que nos vimos no nosso trabalho, foi que os incêndios tem sido cada vez mais comuns em áreas que antes não queimavam”, afirmou
Só no mês de agosto, o Amazonas concentrou 73% do número de focos de queimadas registrados no estado em 2021. Em todo o ano, o estado teve cerca de 5.300 pontos de calor.
Mathias Pires afirma que o avanço dos incêndios pode agravar a crise climática:
“No medida em que você tem a floresta se desestruturando por conta desses incêndios, todos esses serviços, essas funções ecossistêmicas vão sendo perdidas também”. O pesquisador diz que a previsão é que a Amazônia presencie períodos maiores de seca – mais frequentes e intensos e assim a vulnerabilidade da floresta à incêndios se torna maior.
Segundo o estudo, os ciclos de incêndios na Amazônia se relacionam com os momentos políticos do país.
A pesquisa mostra que até 2008, os incêndios eram mais frequentes e impactavam uma área bem maior.
Com as políticas de controle de desmatamento implementadas a partir de 2009, mesmo com o tempo seco, houve significativa redução.
Porém, em 2019, o impacto do fogo foi maior do que o esperado, o que coincide com o relaxamento da fiscalização.
O físico da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em mudanças climáticas, Paulo Artaxo, afirma que são necessárias mais ações dos governos. O especialista afirma que é necessário reduzir a taxa de desmatamento para zero e que essa é uma realidade possível para os poderes executivos.
As análises do estudo publicado na Nature incluem mais de 11 mil espécies de plantas e mais de 3 mil espécies de animais distribuídos pela região amazônica.
Para algumas espécies, mais de 60% da área original sofreu com as consequências dos incêndios.
Reportagem: João Felipe Serrão
Foto: Christian Braga/Greenpeace Brasil