Por Rosiene Carvalho
A artesã indígena Samela Sateré Mawé, que participou da Cop 26, declarou que indígenas cansaram de servir de moeda de troca para captação de volumosos recursos financeiros no exterior e, na prática, serem deixados de lado dentro do País na tomadas de decisões e definição de políticas públicas, inclusive sobre seus próprios territórios.
Na entrevista, ela faz uma avaliação sobre o evento
A artesã indígena Samela Sateré Mawé declarou que indígenas cansaram de servir de moeda de troca para captação de volumosos recursos financeiros no exterior e, na prática, serem deixados de lado dentro do País na tomadas de decisões e definição de políticas públicas, inclusive sobre seus próprios territórios.
“A gente precisa do protagonismo das comunidades indígenas e ribeirinhas dentro destes acordos. Não queremos mais intermediários. Somos protagonistas, sim. Temos várias organizações indígenas que são completamente capazes de gerir nossos territórios, de gerir qualquer recurso que venha para a preservação. Nada é feito por nós sem nós”, declarou em entrevista exclusiva aos jornalistas Rafael Campos e Rosiene Carvalho, na coluna de política da rádio BandNews Difusora (93.7), nesta sexta-feira, dia 12.
Samela Sateré Mawé é uma das 40 lideranças que formou a maior delegação indígenas de todas as Cops (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) em Glasgow, na Escócia, durante a 26ª edição do evento. Desembarcaram e participaram dos debates sobre as mudanças climáticas indígenas de todos os biomas do Brasil: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
Samela faz parte da Associação de Mulheres Indígenas Artesãs Saterê Mawé e participou da COP representando a ANMIGA (Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade), a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e Fridays for future (também conhecido como Juventude pelo Clima, Greve Global pelo Clima, Greve das Escolas pelo Clima liderados pela ativista Greta Thunberg).
Ela defende que o Estado do Amazonas precisa ter uma participação mais ampla nos debates nacionais e internacionais sobre a questão climática, passando pelo protagonismo e inclusão dos indígenas na pauta. A indígena critica o alheamento e ignorância dos políticos do estado a respeito da realidade dos povos tradicionais.
“O Amazonas precisa ter uma participação ampla. O nosso estado é tem muita biodiversidade e a gente precisa estar por dentro desta tomada de decisão. São 68 povos no Amazonas, mas parece que os políticos não conhecem sobre a nossa biodiversidade, sobre a nossa diversidade, cultura e identidade. Precisamos abrir o olho para tudo que temos, para dialogar com as populações indígenas”, afirmou.
Samela disse que a participação das comitivas indígenas e da sociedade civil na COP 26 fez diferença, especialmente para contrapor dados divulgados pela comitiva do governo brasileiro que não condiziam com a realidades dos territórios indígenas.
“Foi importante a nossa participação. Nós mesmos vir (à COP) e desmentir o que a comitiva brasileira veio falar. Não fomos aceitos no pavilhão brasileiro, não fomos chamados para construção reuniões. A gente fez a nossa própria comitiva e articulações”, disse.
Ela afirmou que a principal bandeira da comitiva indígena em Glasgow foi demarcação.
“Denunciar todas as atrocidades que vêm acontecendo dentro dos territórios indígenas. E a nossa principal bandeira dessa COP-26 foi a demarcação . A gente defende a demarcação dos territórios. Sabemos que nestas áreas é onde há a maior preservação. Também denunciar todas as questões que vêm ocorrendo dentro dos territórios e que contribuem para as questões climáticas, para o racismo ambiental, de justiça climática, que são as questões de desmatamento, de mineração, de grilagem, de caça e pesca ilegal e tráfico de animais”, afirmou.
Samela afirmou que os indígenas sabem que são os principais guardiões e defensores do meio ambiente porque sempre lutaram e defenderam seus territórios. Ela disse que são os indígenas, as comunidades ribeirinhas e quilombolas que sofrem e sabem os impactos da devastação e das mudanças climáticas. Em função disso, a indígena defende a atuação das lideranças e da juventude indígena para que os reais interesses não pereçam diante de interlocutores que não conhecem a realidade destes povos e da região.
“Só nós comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas sentimos o impacto das mudanças climáticas dentro dos nossos territórios e sofremos diariamente com isso. Enquanto, manauaras, amazonenses, amazônidas que somos, a gente tem que estar aqui”, disse.
E acrescentou: “Não podemos mais sofrer com as ações de outras pessoas. Pessoas que nunca vieram na Amazônia, pessoas brancas, homens brancos não podem tomar decisões por nós. Precisamos estar aqui construindo e é preciso que a juventude também acorde para o nosso futuro e se imponha. Como líderes e pessoas capazes de mobilizar”, afirmou.
Samela disse que percebeu muito interesses de governos estrangeiros em financiar a preservação da floresta e o respeito ás populações tradicionais e, por outro lado, a vontade dos representantes brasileiros em receber esses recursos.
“Viemos com uma perspectiva e estamos voltando com outra. Agora, de cobrança. Sabemos que o Brasil assinou vários acordos, vários termos ambiciosos. E a gente espera que o Brasil cumpra, que não tenham assinado termos só para ter uma reeleição. Mas esperamos que eles cumpram. Exatamente como foi falado aqui. Os dados que foram mostrados para outros Países sobre mineração e desmatamento não refletem o que acontece dentro dos territórios”, disse.
Ela defende como parte dessa perspectiva de retorno e cobrança a defesa da inclusão dos indígenas como parte do processo de tomada de decisões.
“A gente viu vários Países querendo contribuir e assinar contratos termos bilionários de preservação da floresta e do meio ambiente e a gente vê o interesse do Brasil com relação a estes contratos. Só que a gente precisa do protagonismo das comunidades indígenas e ribeirinhas dentro destes acordos”, declarou.