Pandemia agrava situação econômica para quem mora ao longo da BR-319

BR-319

A pandemia tem conturbado a já delicada situação econômica em 13 complexos de conservação (UC), situados ao longo da BR-319. As unidades estudadas ficam localizadas ao sul do Amazonas, região com intensas pressões e ameaças socioambientais, em que se encontram as mais altas taxas de desmatamento do estado.

Um desses locais fica em Lábrea, cidade apontada em um estudo recente do Observatório do Clima como o sétimo município que mais emite CO2 (dióxido de carbono) do Brasil, à frente, por exemplo, de metrópoles nacionais como o Rio de Janeiro.

O estudo realizado pelo Observatório da BR-319, entrevistou lideranças de 15 empreendimentos que desenvolvem atividades econômicas nas Unidades de Conservação (UC) e identificou que a pandemia impactou desde o início da cadeia produtiva até o final, com a paralisação da comercialização.

Os principais impactos citados foram a dificuldade em vender os produtos, problemas ou interrupção do transporte das mercadorias e a queda nos preços, em especial a castanha-da-Amazônia, como explica a bióloga que coordenou a produção da Nota Técnica, Paula Guarido:

“Essa nota aponta para uma necessidade muito basal de organização e disponibilização e uma base de dados, porque se não sabemos quantas e quem são essas organizações, como é possível pensar nelas de forma estratégica e pensar em políticas públicas para essa região?” indagou a bióloga.

Embora os governos estadual e federal tenham proibido a entrada de pessoas não moradoras nas Unidades de Conservação para conter a chegada da pandemia, os entrevistados não relataram a implementação de qualquer política pública voltada à manutenção das atividades econômicas.

Essa provável ausência, resultou, segundo os relatos, no aumento de atividades ilegais dentro desses territórios, o que pode fazer os infratores levarem o coronavírus para estes lugares:

“eu acredito que muito pode ser feito para mudar essa situação, a começar por enxergarmos aos povos originários, os povos tradicionais como os grandes protagonistas da bioeconomia do estado, passando a investir cada vez mais no aperfeiçoamento de suas atividades produtivas”, concluiu Guarrido.

Somado a este contexto, as obras de repavimentação da rodovia BR-319 podem possibilitar a conexão do Arco do Desmatamento à Amazônia Central, aumentando ainda mais as pressões e ameaças já existentes.

Na avaliação do Engenheiro Florestal, Leonan Valente, estudos relacionados à dimensão do impacto da BR-319 são fundamentais para fomentar políticas e ações no que diz respeito a repavimentação e ocupação das áreas no entorno da estrada:

“A limitação administrativa e provisória da BR-319 possibilitou que todas as instituições de comando e controle ambiental, assim como as instituições de pesquisa que atuam do arco do desmatamento, criassem as unidades de conservação, que são áreas de florestas protegidas e que servem como estratégias para limitar a ocupação ilegal dessa região e a grilagem de terras” disse o engenheiro florestal.

A Nota Técnica também apresenta cinco recomendações sobre maior participação dos moradores na elaboração de políticas públicas para a região; como o fortalecimento de organizações de base comunitária; presença efetiva do Estado; monitoramento constante dos casos de covid-19 e o fortalecimento de órgãos ambientais.

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Reportagem: Ricardo Chaves
Foto: Divulgação/DNIT

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