Principal herbário da Amazônia, no INPA, tem condições precárias e é ameaçado por risco de incêndio

 

Narração: Álex Ferreira
Reportagem: Eros de Sousa

A falta de recursos humanos e financeiros e os riscos de incêndios rondam há anos o principal herbário da Amazônia, com cerca de 300 mil espécies de plantas e fungos catalogadas.

No fim do ano de 2014, um curto-circuito em uma caixa de ligação no herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, no Amazonas, causou o fogo que se alastrou pelas paredes do espaço.

O princípio de incêndio ocorreu por volta de meio-dia, mas pela falta de recursos humanos não havia ninguém no local naquele momento.

As chamas subiram as paredes e só foram apagadas porque o cheiro de queimado despertou atenção de uma técnica do INPA que passava no acervo. Felizmente o herbário foi salvo por sorte.

O acidente poderia ter queimado uma biblioteca verde de quase 70 anos. As marcas escuras do fogo ainda são visíveis nas paredes do herbário.

Curador do acervo há 10 anos, o britânico Mike Hopkins afirma que a perda do hebário poderia ser comparada a do Museu Nacional no Rio de Janeiro, quando 20 milhões de itens históricos foram perdidos por causa de um incêndio, em 2018. (Ouça)

O ar condicionado é uma parte importante da preservação do acervo, evita que agentes externos, como insetos, comam as amostras. Mesmo assim, alguns aparelhos tinham problemas ou nem funcionavam.

O acervo também precisa que seja realizado um expurgo, uma espécie de dedetização especializada em eliminar esses insetos.

O técnico botânico do herbário, Nory Erazo, disse que o expurgo já devia ser realizado, mas que processos burocráticos têm dificultado. (Ouça)

Mike Hopkins diz que solicitou um sistema anti-incêndio mais qualificado no herbário pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa vinculada ao ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, mas o projeto foi rejeitado por falta de verbas.

O prédio é rodeado por materiais infláveis, papéis, folhas secas e madeiras. O único alarme de incêndio foi comprado pelo próprio curador do Acervo.

A falta de recursos humanos é outro problema do herbário, alguns trabalhos ficam centralizados no curador, como o de digitalização das amostras. Um local onde deveriam trabalhar 10, trabalham 3, segundo Mike Hopkins.

O orçamento anual aprovado para 2023 pelo governo federal ao INPA foi de quase R$ 40 milhões.

Para o ano que vem, o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA-2024) está em R$ 41.800 milhões. A proposta ainda passará por aprovação no congresso no decorrer do ano.

A diretora do Inpa, Antonia Franco, chegou a afirmar em setembro deste ano que o orçamento ideal seria de valor em torno de R$ 51 milhões.

O herbário do INPA foi a primeira coleção a ser criada, juntamente com o Instituto em julho de 1954.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) foi questionado sobre as condições de infraestrutura do herbário e até o fechamento desta matéria não se pronunciou.

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